“A federação União Progressistas, formada por União Brasil e PP, formalizou nesta terça-feira (2) o desembarque do governo Lula (PT), pondo fim a uma “aliança” que já durava quase três anos. E o que pode ser dito disso? Já vai tarde, diriam os petistas. Já vou tarde, diriam majoritariamente os integrantes das duas agremiações. E ambos teriam razão nesta consideração. O que se pode dizer é que esse casamento por interesse, bem a cara do centrão, nunca fez bem às partes e fomentou um tipo de aliança flex, com os dois partidos fazendo, ao mesmo tempo, papel de governo e oposição.

Se pegarmos o exemplo mais próximo, o do senador paraibano Efraim Filho (União Brasil), causa espanto a ilação de que ele teria, algum dia, composto a base de apoio do governo petista. Essa é uma roupa que não lhe cabe. O projeto de prorrogação da desoneração da folha de pagamento das empresas que mais contratam, aprovado em 2023, foi de autoria do parlamentar paraibano e gerou, naquele ano, dificuldade para o fechamento das contas, segundo a equipe econômica. Do mesmo partido vieram escândalos relacionados ao ex-ministro Juscelino Filho (Comunicações), que foi indiciado pelo Supremo no ano passado.
Nada diferente foi oferecido pelo PP, do senador Ciro Nogueira (PI). O partido que emprega o ministro dos Portos e Aeroportos, Sílvio Costa Filho (PE), e o presidente da Caixa Econômica, Carlos Vieira, é também dono de articulações que levaram o governo a derrotas expressivas. E não para por aí. Mesmo formalmente rompidos com o Planalto, as duas siglas manterão nomes no governo. Da Paraíba, permanece o presidente da Caixa e ainda e o ministro das Comunicações, Frederico Siqueira Filho. Eles são indicações, respectivamente, do ex-presidente da Câmara, Arthur Lira (AL), e do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (AP).
Mesmo com a aliança formalizada, tanto o presidente do PP, Ciro Nogueira, quanto o do União Brasil, Antônio Rueda, sempre foram mais próximos ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Nogueira, por exemplo, fazia planos de ser candidato a vice do ex-gestor, apesar do ex-mandatário estar inelegível e prestes a ter a condenação por tentativa de golpe de estado confirmada pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Esta proximidade maior com a oposição fez com que as duas siglas funcionassem mais como quinta coluna que como aliadas do governo. Nas votações, tiraram muito mais do que entregaram.
A saída dos dois partidos da base, digamos assim, coloca as coisas mais ou menos em pratos limpos. E digo mais ou menos porque a saída não será plena. As agremiações estarão fora da base, agredindo o governo, trabalhando contra, mas não sairão por completo da gestão, como manda o manual de uma jabuticaba bem brasileira. E Lula continuará, pelo jeito, chamando urubu de meu louro.”
