Coluna de opinião — por Alberdan Souza
É visível o desconforto que o governador Elmano de Freitas vem demonstrando diante da crescente movimentação de Ciro Gomes no cenário político cearense. Embora o discurso oficial tente transmitir tranquilidade, os bastidores contam outra história: há, sim, um temor e talvez até um prenúncio de ruptura dentro do grupo que hoje comanda o Estado.

Elmano, apesar da popularidade razoável e de certa estabilidade administrativa, ainda é refém do peso político e da narrativa que o “cirismo” impôs ao Ceará nas últimas duas décadas. O retorno de Ciro à linha de frente, mais afiado e disposto a resgatar a hegemonia do seu grupo, mexe com o tabuleiro. O medo não é apenas eleitoral — é simbólico. Ciro representa o velho império Ferreira Gomes, e sua eventual candidatura reativa antigas lealdades e ressentimentos.
Nos corredores do poder, há quem aposte que o “golpe” contra Elmano pode vir de dentro. A máquina petista, hoje alinhada ao lulismo nacional, nunca se sentiu plenamente confortável com a dependência do grupo dos Ferreira Gomes. E com o xadrez de 2026 se formando, a convivência começa a se tornar insustentável. O PT quer autonomia, Ciro quer revanche e Elmano, no meio do fogo cruzado, parece perder o protagonismo.
O fato é que o governador tem pouco tempo para mostrar que é mais do que um gestor de transição. Ou ele impõe sua liderança de fato, consolidando um projeto próprio, ou será lembrado como o governador que herdou um trono sem herdeiros e acabou cercado por aliados com punhais nas mangas.
No Ceará, o jogo político nunca foi para amadores e Elmano sabe que o próximo lance pode decidir o destino de todo o grupo.
